Clima favorável, investimentos em insumos e máquinas e otimismo do agricultor com as perspectivas do mercado externo são os fatores que explicam os seguidos aumentos das estimativas da safra de grãos que está sendo colhida no País. As mais recentes, divulgadas pelo IBGE e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), embora com pequenas discrepâncias decorrentes do uso de metodologias diferentes, indicam que esta pode ser a segunda maior safra da história. É um cenário bem melhor do que o observado no ano passado, marcado pela crise econômica mundial, pelas incertezas quanto à demanda internacional, pela queda de preços e, em algumas regiões – sobretudo no Sul –, por uma prolongada estiagem.
O avanço da produtividade em virtude do maior uso de insumos e máquinas é surpreendente. Com essa colheita, o Brasil reforçará uma tendência que se observa há anos. A agricultura brasileira vem tendo desempenho melhor que a de outros países exportadores. Há dez anos, o Brasil era o sexto maior exportador mundial de produtos agrícolas. Em 2008, o terceiro, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. Melhorar a posição no ranking mundial, porém, será muito difícil. Em 2008, as exportações dos Estados Unidos alcançaram US$ 140 bilhões e as da União Europeia, US$ 126 bilhões, mais que o dobro do resultado alcançado pelo Brasil. A distância
é muito grande.
Mas o Brasil tem condições de aproximar-se dos líderes, pois os fatores que impulsionaram a produção brasileira nos últimos anos continuam presentes. Entre eles estão a disponibilidade de recursos naturais, como terra, água e sol; a demanda dos países asiáticos; e o aumento da produtividade − esta sustentada, principalmente, pelas pesquisas da Embrapa de variedades e de métodos adequados à realidade brasileira e pela modernização da gestão no campo, que não para de crescer.
Problemas existem, e não são desprezíveis. O principal desafio da agricultura brasileira é a precária infraestrutura. As estradas são ruins e não atendem a importantes regiões. Por causa dessa deficiência, o custo do frete representa quase metade do valor recebido pelo produtor de soja de Mato Grosso. Também inibe a expansão da atividade agrícola a preocupação com o meio ambiente, que tem gerado pressões no sentido de preservação das matas nativas. Há dez anos, estimava-se em 100 milhões de hectares a área nova disponível para agricultura; hoje, a estimativa está em 60 milhões de hectares. Mesmo assim, a agricultura encontra áreas para crescer, como o oeste da Bahia, o leste de Mato Grosso e o sul do Maranhão e do Piauí.
(O Estado de S. Paulo, Notas e informações, A3, 13 de março de 2010, com adaptações)