Atenção: As questões de números 1 a 4 referem-se ao texto abaixo.
O Polo Norte está ameaçado: o oceano gelado que o rodeia começou a derreter. O colapso da calota teve início. O explorador alemão Arvel Fuchs calcula que, durante o verão de 2009, os gelos derretidos do Polo Norte equivalem a quatro vezes a área da Alemanha. Dez filmes nos mostraram o sofrimento de ursos magros e extraviados à procura de seus antigos reinos inviolados de gelo. A partir deste verão, é possível que navios pioneiros consigam unir o Canadá à Sibéria.
Esse desaparecimento da calota polar que envolve há milhões de anos o cimo da Terra é um grande movimento da história. A última "terra incógnita" vai desaparecer. O imenso silêncio, os horizontes infinitos, as vastas brancuras do Polo Norte e seu nada vão ser substituídos por regiões às quais os homens, seus barulhos, seus motores a explosão, seus bancos, seus contêineres, terão acesso. Vamos assistir a um fenômeno raro: uma subversão da geografia que se desenrolará diante de nossos olhos.
Semelhante aventura provocará grandes transformações econômicas em escala planetária: de um lado, o mar, quando ficar desimpedido e acessível, poderá ser explorado pelos homens. Ele deixará que engenheiros e operários revolvam suas entranhas até agora interditas. Paralelamente, os navios poderão ligar diretamente a América ou a Europa ao Extremo Oriente, em vez de fazê-lo por enormes e custosos desvios pelo sul da África ou pelo Canal de Suez.
As nações que margeiam o Oceano Ártico já estão na linha de largada: Estados Unidos, Rússia, Canadá, Groenlândia (Dinamarca) e Noruega. Os olhos brilham de cobiça à espera da abertura de um cofre-forte cheio de lingotes. Que lingotes? Carvão, cobre, bilhões de barris de petróleo, bilhões de metros cúbicos de gás, cobalto, antimônio, níquel, peixes. Uma caverna de Ali Babá.
(Trecho do artigo de Gilles Lapouge. O Estado de S.
Paulo, Economia, B14, 11 de julho de 2010)