Maturidade
Não, não sei, jamais saberei o que é maturidade. Mas sei reconhecer a imaturidade, quando esta se manifesta. Reconheço-a antes de tudo em mim, que cheguei esperançoso à ideia de não mais merecê-la. Mas o milagre não se deu.
Por vezes tive a boba e boa ilusão de estar chegando lá, à maturidade. Controlei alguns demônios menores; outros de moto próprio me deixaram; senti valorizar-se em mim o sentido da justiça e a tentação da fraternidade; meu egoísmo se reduziu, dando mais espaço à compreensão do outro, abri os olhos às minhas complacências indevidas e os fechei o mais que pude aos rigores de juízo enraizados no ressentimento. Demissões, mutações e aquisições se operavam em mim, que esperava, deliciado, a maturidade.
Mas a maturidade não veio. Esvaziei-me no desengano. A princípio com uma tristeza, depois com uma espécie de contentamento venal, chegando quase à indiferença insípida, vi que a maturidade não veio.
(Paulo Mendes Campos, Crônicas escolhidas. S. Paulo: Ática, 1981, p. 149)
Com a afirmação cheguei esperançoso à ideia de não mais merecê-la, no primeiro parágrafo, o autor está-se referindo, precisamente,