Atenção: As questões de números 8 a 13 referem-se ao texto seguinte.
No último 13 de abril o mundo do samba celebrou os 90 anos da genialíssima Dona Ivone Lara. E o evento trouxe à baila mais uma intrigante questão. É que, desde o surgimento dessa grande dama no cenário artístico musical, as escolas de samba nunca mais conseguiram projetar em nossa música popular o nome de algum artista oriundo de seu meio.
Comecemos por observar que nos anos 70-80, no Rio, muitos sambistas importantes surgiram. Mas, embora alguns mantivessem ligações com escolas, a base de lançamento de quase todos foi um bloco, o Cacique de Ramos. E a visibilidade por eles alcançada não veio da "avenida", e sim de uma manifestação não carnavalesca do ambiente musical carioca: o pagode de mesa.
Surgido como sinônimo de divertimento, patuscada, farra, o termo "pagode" ganhou, no Rio de Janeiro, a acepção de reunião de sambistas, em substituição a "roda de samba", denominação antes em voga. E, a partir dos encontros realizados
no quintal do bloco Cacique de Ramos, o nome pagode passou a denominar ao mesmo tempo um estilo de interpretação do samba e um subgênero de canção popular.
A chegada desse novo estilo ao mercado se deu com as primeiras gravações do Grupo Fundo de Quintal e se consolidou com o lançamento, em 1985, do LP Raça Brasileira. Nesse disco aparece para o grande público, entre outros, o nome de Zeca Pagodinho. Privilegiando, também, a tradição do partido-alto, o estilo pagode colocou em destaque compositores como Almir Guineto, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Luiz Carlos da Vila e, mais tarde, o jovem Dudu Nobre.
Na segunda metade da década de 1990, o subgênero da canção rotulado como "pagode" pela indústria fonográfica, com as inevitáveis deturpações, diluições e aproximações com o rock mundializado, colocou em evidência e tornou artistas bem remunerados vários jovens sambistas da periferia de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mas não guindou ao estrelato, pelo menos no Rio, nenhum artista ligado ao universo das escolas de samba.
(Adaptado de: Nei Lopes. O Estado de S. Paulo, C2+m/Ouvido Absoluto, 7 de maio de 2011)
. (1º parágrafo)