Na reunião em que foi eleito diretor-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) da ONU, o ex-ministro brasileiro José Graziano da Silva assegurou − com sua experiência de gestor do programa de combate à fome entre nós − que esta será sua prioridade: enfrentar esse problema no mundo, para que até 2015 o número de carentes de alimentos no planeta, hoje em torno de 1 bilhão, se reduza à metade. "É o desafio do nosso tempo", disse na ocasião o ex-secretário da ONU, Kofi Anan, lembrando que um dos complicadores dessa questão, "o protecionismo dos ricos" à sua produção de alimentos, só tem aumentado. E isso quando a própria FAO alerta que os preços desses produtos continuarão a subir nos próximos dez anos. E que a produção precisará crescer 70% até 2050, para alimentar os 9,2 bilhões de pessoas que estarão no mundo nessa época. Ele alertou também para os crescentes compra e arrendamento de terras em outros países, por especuladores de fundos de alto risco de países industrializados.
Tudo acontece num cenário paradoxal. Um relatório da própria FAO assegura que um terço dos alimentos produzidos no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas anuais, se perde ou é desperdiçado. Os consumidores ricos desperdiçam 222 milhões de toneladas de frutas e hortaliças − tanto quanto a produção de alimentos na África.
E assim vamos no mundo dos paradoxos. A produção de alimentos cresce, sobem os preços, "commodities" transformam-se em garantia para investimentos, juntamente com a compra de terras em países mais pobres. Mas não se consegue sair de perto do número terrível de 1 bilhão de famintos no planeta, 40% da humanidade, vivendo abaixo da linha de pobreza.
(Trecho com adaptações do artigo de Washington Novaes. O Estado de S. Paulo, A2, Espaço Aberto, 1 de julho de 2011)
O comentário colocado entre os travessões no 1º parágrafo destaca a