Atenção: Para responder às questões de números 1 a 8, considere o texto abaixo.
A ética epicurista é basicamente um hedonismo. Mas o hedonismo epicurista, embora considere todo prazer como corpóreo, não legitima qualquer tipo de prazer. Faz-se necessário distinguir o verdadeiro prazer, estável, dos prazeres que resultam em pesares ou partem de carências. O primeiro tipo é o prazer em repouso, diferente do prazer em movimento, que os cirenaicos consideram o bem buscado pelos homens. Exemplo de prazer em movimento é sentir sede e saciá-la. O prazer em repouso, meta do epicurista, não consiste em satisfazer uma necessidade: é, antes, eliminar a necessidade, atingir a ausência de dor. Por isso, o prazer prescrito pelo epicurismo opõe-se à busca desenfreada e ansiosa de bens.
Administrar os desejos, para manter-se "nos limites impostos pela natureza" − eis o caminho que conduz à serena felicidade. Esse controle racional da afetividade coloca a existência humana em sintonia com a natureza das coisas reveladas pela física e impede que se siga na direção apontada pelo desejo que não expressa uma necessidade natural, antes constitui imposição do meio social em seu aparente progresso. A vida ascética e frugal das comunidades epicuristas procura a serenidade resultante da satisfação dos desejos naturais e necessários: a delícia está na qualidade, não na quantidade dos bens adquiridos.
Ser mortal, o homem constrói sua liberdade no tempo, no tempo desta vida, que deve ser transformado em tempo de felicidade. O epicurismo considera, com efeito, que além do mundo imediato, captado pelas sensações, há também um plano de realidade − igualmente corpórea, porém mais sutil − à disposição do homem: seu acervo de imagens, seu arquivo de lembranças, simulacros corpóreos de sensações, que ele pode utilizar para sua felicidade.
De tudo isso resulta o valor atribuído pela ética epicurista ao tempo, ao acúmulo de experiências, ao passado e à memória, e, consequentemente, à velhice. Dotado de grande acervo de lembranças, o idoso, segundo Epicuro, possui mais condições para alcançar a serena felicidade.
(Adaptado de: José Américo Motta Pessanha. As delícias do jardim. In: Ética. Org. Adauto Novaes. São Paulo, Cia. das Letras, 2007, p. 74 a 76)
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em: