Livro “Cidade Cerzida” retrata o Morro Santa
Marta e discute as UPPs
Nos dicionários, “cerzir” significa costurar, unir, juntar. E a ideia do escritor Adair Rocha ao escrever o livro “Cidade cerzida” era exatamente abordar a costura da cidadania no Morro Santa Marta, em Botafogo, bairro do Rio de Janeiro onde ele mora.
“Transito há 30 anos pela comunidade. Participo sempre da Folia de Reis, a festa de lá é uma das mais tradicionais da cidade. Também ajudo na colônia de férias do Grupo Eco, de educação e promoção social, que organiza, desde a década de 80, atividades de formação para mais de 300 crianças”, conta Rocha. A obra, lançada em 2000, chega agora à terceira edição, revista e ampliada, com a inclusão de um capítulo que discute a implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio, em dezembro de 2008. Segundo Rocha, a intenção é questionar a possibilidade de existência de uma outra cultura de segurança. “Conversando com os moradores, percebi que a avaliação da UPP é bastante positiva, mas eles acham que o conceito de segurança deveria englobar, de forma mais efetiva, políticas públicas relacionadas a educação, saúde, saneamento e moradia”, diz. Itamar Silva, morador do Santa Marta e presidente do Grupo Eco, comenta essa visão da comunidade: “As UPPs marcam claramente uma mudança de atitude do governo em relação às favelas. Mas é preciso esperar para ver se elas vão se configurar como um fato de longa duração. Tudo ainda é muito recente, o futuro é incerto.” Professor de Mídias Locais e Jornalismo Cultural na PUC e na Uerj, Rocha faz questão de lembrar que o nome da favela não é Dona Marta, como muitos acreditam. Silva explica: “A comunidade foi fundada no final dos anos 30 como Santa Marta, por causa de uma capela de mesmo nome no alto do morro. Dona Marta é apenas o mirante que fica no Cosme Velho, a 360 metros de altitude, que tem acesso pela Estrada das Paineiras.”
Fonte: O Globo, 14/06/2012.