Atenção: As questões de números 11 a 20 baseiam-se no texto apresentado abaixo.
Filmes sobre tribunais
Não são poucos os filmes, ou mesmo séries de TV, em que a personagem principal é uma instituição: um julgamento no tribunal, com júri popular. É verdade que em muitos desses filmes há as preliminares das peripécias violentas, da ação policial, da detenção e do interrogatório de suspeitos, mas o clímax fica reservado para os ritos de acusação e defesa, tudo culminando no anúncio da sentença. Que tipo de atração exercem sobre nós essas tramas dramáticas?
Talvez jamais saibamos qual foi a primeira vez que um grupo de pessoas reuniu-se para deliberar sobre a punição de alguém que contrariou alguma norma de convívio; não terá sido muito depois do tempo das cavernas. O fato mesmo de as pessoas envolvidas deliberarem em forma ritual deve-se à crença na apuração de uma verdade e à adoção de paradigmas de justiça, para absolver ou condenar alguém. A busca e a consolidação da indiscutibilidade dos fatos, bem como a consequente aplicação da justiça, não são questões de somenos: implicam a aceitação de leis claramente estabelecidas, o rigor no cumprimento dos trâmites processuais, o equilíbrio na decisão. Ao fim e ao cabo, trata-se de estabelecer a culpa ou inocência − valores com os quais nos debatemos com frequência, quando interrogamos a moralidade dos nossos atos.
É possível que esteja aí a razão do nosso interesse por esses filmes ou séries: a arguição do valor e do nível de gravidade de um ato, sobretudo quando este representa uma afronta social, repercute em nossa intimidade. Assistindo a um desses filmes, somos o réu, o promotor, o advogado de defesa, o juiz, os jurados; dramatizamos, dentro de nós, todos esses papéis, cabendo-nos encontrar em um deles o ponto de identificação. Normalmente, o diretor e o roteirista do filme já decidiram tudo, e buscam deixar bem fixado seu próprio ponto de vista. O que não impede, é claro, que possamos acionar, por nossa vez, um julgamento crítico, tanto para estabelecer um juízo pessoal sobre o caso representado em forma de ficção como para julgar a qualidade mesma do filme. Destas últimas instâncias de julgamento não podemos abrir mão.
(Evaristo Munhoz, inédito)
Diante do que considera propósitos já estabelecidos pelo diretor e pelo roteirista de um desses filmes sobre tribunais, o autor posiciona-se