Contribuição de um antropólogo
A maior contribuição do antropólogo Claude Lévi-Strauss (que, ainda jovem, trabalhou no Brasil, e morreu, centenário, em 2009) é de uma simplicidade fundamental, e se expressa na convicção de que não pode existir uma civilização absoluta mundial, porque a própria ideia de civilização implica a coexistência de culturas marcadas pela diversidade. O melhor da civilização é, justamente, essa “coalizão” de culturas, cada uma delas preservando a sua originalidade. Ninguém deu um golpe mais contundente no racismo do que Lévi-Strauss e poucos pensadores nos ensinaram, como ele, a ser mais humildes.
Lévi-Strauss, em suas andanças pelo mundo, foi um pensador aberto para influências de outras disciplinas, como a linguística. Foi ele também quem abriu as portas da antropologia para as ciências de ponta, como a cibernética, que era então como se chamava a informática, conectando-a com novas disciplinas como a teoria dos sistemas e a teoria da informação. Isso deu um novo perfil à antropologia, que propiciou uma nova abertura para as ciências exatas, e reuniu-a com as ciências humanas.
Em 1952, escreveu o livro Raça e história, a pedido da Unesco, para combater o racismo. De fato, foi um ataque feroz ao etnocentrismo, materializado num texto onde se formulavam de modo claro e inteligível teses que excediam a mera discussão acadêmica e se apoiavam em fatos. Comenta o antropólogo brasileiro Viveiros de Castro, do Museu Nacional: “Ele traz para diante dos olhos ocidentais a questão dos índios americanos, algo que nunca antes havia sido feito. O colonialismo não mais podia sair nas ruas como costumava fazer. Foi um crítico demolidor da arrogância ocidental: os índios deixaram de ser relíquias do passado, deixaram de ser alegorias, tornando-se nossos contemporâneos. Isso vale mais do que qualquer análise.”
Reconhecer a existência do outro, a identidade do outro, a cultura do outro – eis a perspectiva generosa que Lévi-Strauss abriu e consolidou, para que nos víssemos a todos como variações de uma mesma humanidade essencial.
(Adaptado de Carlos Haag, Pesquisa Fapesp, dezembro 2009)
Está plenamente adequada a correlação entre tempos e modos verbais na frase: