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Não sei se V. Exa. Revma. é como eu. Eu gosto de contemplar o passado, de viver a vida que foi, de pensar nos homens que antes de nós, ou honraram a cadeira que V. Exa. Revma. ocupa, ou espreitaram, como eu, as vidas alheias. Outras vezes estendo o olhar pelo futuro adiante, e vejo o que há de ser esta boa cidade de S. Sebastião, um século mais tarde, quando o bonde for um veículo tão desacreditado como a gôndola, e o atual chapéu masculino uma simples reminiscência histórica.
Podia contar-lhe em duas ou três colunas o que vejo no futuro e o que revejo no passado; mas, além de que não quisera tomar o precioso tempo de V. Exa. Reverendíssima, tenho pressa de chegar ao ponto principal desta carta, com que abro a minha crônica.
E vou já a ele.
(Machado de Assis. História de quinze dias: crônicas. 1877,
1 de janeiro. IN Obra completa, v. III, Rio de Janeiro: José Aguilar, 1962. p. 352-353)