Atenção: As questões de números 1 a 10 referem-se ao texto seguinte
A arte de não fazer nada
Dizem-me que mais da metade da humanidade se dedica à prática dessa arte; mas eu, que apenas recente e provisoriamente a estou experimentando, discordo um pouco dessa afirmativa. Não existe tal quantidade de gente completamente inativa: o que acontece é estar essa gente interessada em atividades exclusivamente pessoais, sem consequências úteis para o resto do mundo.
Aqui me encontro num excelente posto de observação: o lago, em frente à janela, está sendo percorrido pelos botes vermelhos em que mesmo a pessoa que vai remando parece não estar fazendo nada. Mas o que verdadeiramente está acontecendo, nós, espectadores, não sabemos: cada um pode estar vivendo o seu drama ou o seu romance, o que já é fazer alguma coisa, embora tais vivências em nada nos afetem.
E não posso dizer que não estejam fazendo nada aqueles que passam a cavalo, subindo e descendo ladeiras, atentos ao trote ou ao galope do animal.
Há homens longamente parados a olhar os patos na água. Esses, dir-se-ia que não fazem mesmo absolutamente nada: chapeuzinho de palha, cigarro na boca, ali se deixam ficar, como sem passado nem futuro, unicamente reduzidos àquela contemplação. Mas quem sabe a lição que estão recebendo dos patos, desse viver anfíbio, desse destino de navegar com remos próprios, dessa obediência de seguirem todos juntos, enfileirados, para a noite que conhecem, no pequeno bosque arredondado? Pode ser um grande trabalho interior, o desses homens simples, aparentemente desocupados, à beira de um lago tranquilo. De muitas experiências contemplativas se constrói a sabedoria, como a poesia. E não sabemos ? nem eles mesmos sabem ? se este homem não vai aplicar um dia o que neste momento aprende, calado e quieto, como se não estivesse fazendo nada, absolutamente nada.
(Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende)
(Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende)
De muitas experiências contemplativas se constrói a sabedoria, como a poesia. (4º parágrafo)
Considerando-se o contexto, uma nova, correta e coerente redação do que se afirma na frase acima é: