Atenção: As questões de números 11 a 15 baseiam-se no texto abaixo.
O Brasil é dono de um dos mais extensos e diversificados conjuntos de arte rupestre do mundo. Dele, conhece-se apenas uma pequena parte. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registra a existência de 2.000 sítios arqueológicos com pinturas e inscrições pré-históricas, mas estima-se que esse número possa ser dez vezes maior. São sítios muitas vezes em locais de difícil acesso, e pinturas isoladas, que ficam a centenas de quilômetros umas das outras.
Esses registros gravados em rochas datam de até 40.000 anos atrás e constituem um patrimônio precioso e frágil por natureza, exposto que é à ação do tempo e das mudanças climáticas. No Brasil, a essa agressão inevitável soma-se uma praga vergonhosa. Aqui, o grande inimigo da conservação é o vandalismo. Pinturas milenares têm sido depredadas por pichações, fogueiras, gado − e até por cartazes de propaganda eleitoral. Nos levantamentos do Iphan a depredação atinge 3% do patrimônio nacional.
O patrimônio rupestre até agora conhecido no Brasil não tem a mesma beleza dos desenhos de locais célebres como as grutas de Lascaux, na França e de Altamira, na Espanha. Mas os sítios formam uma das maiores concentrações do mundo de pinturas ainda não estudadas. Eles estão espalhados pelo país e guardam desenhos de diferentes períodos. Alguns são inscrições geométricas, outros sugerem animais, rituais, cenas de luta. São uma ferramenta importante para os estudos sobre o processo de ocupação do continente americano, além de seu valor como registro artístico. Sua destruição é preocupante, porque recai sobre material que ainda não foi sequer cadastrado e examinado.
Hoje, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade, só permite visitação com acompanhamento de um guia devidamente treinado, o que praticamente acabou com o vandalismo.
(Marcelo Bortoloti. Veja, 5 de agosto de 2009, pp. 72-74, com adaptações)