Atenção: As questões de números 11 a 17 referem-se ao texto abaixo.
O cangaço está nas telas de nossos maiores artistas, rendeu filmes premiados, personagens de livros clássicos, e se mantém como fonte de estudo e paixão. A riqueza do fenômeno parece sem fim. O historiador Frederico Pernambucano de Mello prova isso ao esquadrinhar um aspecto original do fenômeno. Em seu livro Estrelas de Couro – A estética do cangaço, apresenta uma abordagem do visual do cangaceiro, adornado e caracterizado com detalhes capazes de ombreá-lo a um cavaleiro medieval europeu ou a um guerreiro samurai. Oferece ideias bem estruturadas sobre a razão das moedas de prata e ouro pregadas no chapéu, do desenho costurado na roupa e de outras minúcias.
As roupas, acessórios, calçados e armas dos cangaceiros não tinham função única. Sob a análise do historiador, esse personagem surge supersticioso. Presas a seu corpo, ele levava diferentes orações com a função de protegê-lo. Objetivo semelhante tinham os símbolos com os quais enfeitava o chapéu, como o signo de Salomão, que reunia a ideia de poder, de proteção, de devolver as ofensas.
A roupa cheia de metais, espelhos e multicores não era um traje de camuflagem, muito ao contrário. Essa característica do cangaceiro, analisa o autor, mostra o caráter arcaico do homem ligado ao sobrenatural, às coisas da vida e da morte. É um traço presente em outras manifestações de arte popular ligadas à divindade. "Os ex-votos, por exemplo, são peças que servem de pagamento à graça alcançada. A carranca do rio São Francisco, vendida em sacos de estopa para que o dono da embarcação não a visse, serve como um abre-caminhos, um protetor contra os malefícios que poderiam estar a cada dobra do rio", explica o historiador.
(Celso Calheiros, CartaCapital, 29 de outubro de 2010, p. 70-
71, com adaptações)
Os ex-votos e a carranca do rio São Francisco, no último parágrafo, apontam para