Atenção: As questões de números 31 a 40 referem-se ao texto seguinte.
Política e literatura
A literatura é necessária à política quando ela dá voz àquilo que não tem voz, quando dá um nome àquilo que ainda não tem um nome, e especialmente àquilo que a linguagem política exclui ou tenta excluir. Refiro-me, pois, aos aspectos, situações, linguagens tanto do mundo exterior como do mundo interior; às tendências reprimidas no indivíduo e na sociedade. A literatura é como um ouvido que pode escutar além daquela linguagem que a política entende; é como um olho que pode ver além da escala cromática que a política percebe. Ao escritor, precisamente por causa do individualismo solitário do seu trabalho, pode acontecer explorar regiões que ninguém explorou antes, dentro ou fora de si; fazer descobertas que cedo ou tarde resultarão em campos essenciais para a consciência coletiva.
Essa ainda é uma utilidade muito indireta, não intencional, casual. O escritor segue o seu caminho, e o acaso ou as determinações sociais e psicológicas levam-no a descobrir alguma coisa que pode se tornar importante também para a ação política e social.
Mas há também, acredito eu, outro tipo de influência, não sei se mais direta, mas decerto mais intencional por parte da literatura, isto é, a capacidade de impor modelos de linguagem, de visão, de imaginação, de trabalho mental, de correlação dos fatos, em suma, a criação (e por criação entendo organização e escolha) daquele gênero de valores modelares que são a um tempo estéticos e éticos, essenciais em todo projeto de ação, especialmente na vida política.
Se outrora a literatura era vista como espelho do mundo, ou como uma expressão direta dos sentimentos, agora nós não conseguimos mais esquecer que os livros são feitos de palavras, de signos, de procedimentos de construção; não podemos esquecer que o que os livros comunicam por vezes permanece inconsciente para o próprio autor, que em todo livro há uma parte que é do autor e uma parte que é obra anônima e coletiva.
(Adaptado de Ítalo Calvino, Assunto encerrado)
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em: