Atenção: As questões de números 41 a 46 referem-se ao texto seguinte.
Linguagem e poder
A mulher pobre que chega ao caixa de um banco e não consegue fazer entender sua situação – ela deve pagar uma fatura de cartão de crédito que lhe foi enviado sem que pedisse, e que jamais utilizou – é um exemplo corriqueiro do poder das palavras e da fragilidade de quem não as domina. A mulher acabará sendo despachada, sem resolver seu problema, pela impaciência do bancário e de todos os que estão na fila. Duas carências na mesma pessoa: a de recursos econômicos e a de linguagem. Nem o conforto de um status prestigiado, nem a desenvoltura argumentativa de um discurso.
Graciliano Ramos, no romance Vidas secas, tratou a fundo dessa questão: suas personagens, desamparados retirantes nordestinos, lutam contra as privações básicas: a de água, a de comida... e a de linguagem. O narrador desse romance é um escritor ultraconsciente de seu ofício: sabe que muito da nossa identidade profunda e da nossa identificação social guarda uma relação direta com o domínio que temos ou deixamos de ter das palavras. Não há, para Graciliano, neutralidade em qualquer discurso: um falante carrega consigo o prestígio ou a humilhação do que é ou não é capaz de articular.
Nas escolas, o ensino da língua não pode deixar de considerar essa intersecção entre linguagem e poder. O professor, bem armado com sua refinada metalinguagem, pode, evidentemente, reconhecer que há uma específica suficiência na comunicação que os alunos já trazem consigo; mas terá ele o direito de não prepará-los para um máximo de competência, que inclui não apenas uma plena exploração funcional da língua, mas também o acesso à sua mais alta representação, que está na literatura?
(Juvenal Mesquita, inédito)
no primeiro parágrafo justificase porque o autor do texto pretendeu, com eles,