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Inclusão é um movimento de mão dupla
De todas as muitas formas de discriminação a que o homem é submetido, aquelas que afetam as pessoas com deficiência são muito singulares e específicas. Apesar desta questão também assumir formas e manifestações tradicionais de desprezo, indiferença, segregação ou violência, o que distingue a discriminação contra as pessoas com deficiência é que, em geral, ela vem revestida de práticas socialmente muito difundidas: caridade e assistência. Uma ajuda corriqueira para subir um degrau ou para atravessar uma rua pode ser vista como um ato solidário que respeita a autonomia e a participação social das pessoas com deficiência. Uma esmola ou estabelecer uma relação com as pessoas com deficiência, que reforça a imagem da fragilidade e incompetência, é um reforço da visão preconceituosa de submissão. Para romper com tais paradigmas é fundamental que se compreenda o significado dos conceitos de integração e inclusão. Isso se faz necessário para que se possa depreender as mudanças sociais que vêm sendo propostas, no que se refere aos programas de atenção às pessoas com deficiência, principalmente aqueles relacionados à educação, saúde, trabalho, cultura e lazer.
O conceito de integração pressupõe a necessidade de um esforço individual da pessoa com deficiência para adaptar-se e adequar-se ao convívio com a comunidade, que não se revê ou se modifica, partindo do princípio que as condições de convivência comunitária estão acessíveis a todos. Portanto, a convivência com as pessoas com deficiência, na lógica da integração, pressupõe que o indivíduo deve ser primeiro reabilitado para somente depois, se possível, ser integrado. O pressuposto da reabilitação traz como princípio básico a ideia de recuperação ou aquisição de funções, tendo como parâmetro o que é considerado normal. O conceito de normalização ou de normal é bastante complexo, mas, para esta reflexão, vale lembrar que o critério de normalidade não é apenas o que representa a maioria, mas também o que é considerado ideal. Integrar é um caminho de mão única, ou seja, cabe à pessoa com deficiência adaptar-se para cumprir as exigências da sociedade. Sob essa perspectiva, a sociedade se considera “pronta”, não cabendo, portanto, nenhuma modificação na sua lógica de funcionamento.
O princípio do respeito à diversidade fortaleceu o movimento da inclusão. Nesse enfoque, não se propõe a negação das diferenças, mas sim o reconhecimento e o respeito a elas. Não se propõe a igualdade massificada, mas a equiparação de oportunidades. A inclusão pressupõe um caminho de mão dupla e exige uma postura dinâmica de transformação e respeito de todos, ou seja, a sociedade não está pronta. Ela aprende, critica, repensa e desenvolve conceitos de forma dinâmica. Não se trata de uma mera troca lexical, mas de um novo paradigma, de um olhar ampliado, onde todos agem no sentido de construir seu grupo de convivência e espaços para compartilhar direitos e deveres, com responsabilidade e participação mútuas e recíprocas.
(Disponível em: https://iparadigma.org.br. Adaptado.)