MONTE CASTELO


1. Ainda que eu falasse a língua dos homens

2. E falasse a língua dos anjos,

3. Sem amor eu nada seria.


4. É só o amor,

5. É só o amor

6. Que conhece o que é verdade.

7. O amor é bom, não quer o mal.

8. Não sente inveja ou se envaidece.


9. O amor é fogo que arde sem se ver.

10. É ferida que dói e não se sente.

11. É um contentamento descontente.

12. É dor que desatina sem doer.


13. Ainda que eu falasse a língua dos homens

14. E falasse a língua dos anjos,

15. Sem amor eu nada seria.


16. É um não querer mais que bem querer.

17. É solitário andar por entre a gente.

18. É um não contentar-se de contente.

19. É cuidar que se ganha em se perder.


20. É um estar-se preso por vontade.

21. É servir a quem vence o vencedor.

22. É um ter com quem nos mata lealdade.

23. Tão contrário a si é o mesmo amor.


24. Estou acordado e todos dormem

25. Todos dormem, todos dormem.

26. Agora vejo em parte.

27. Mas então veremos face a face.


28. É só o amor, é só o amor.

29. Que conhece o que é verdade.


30. Ainda que eu falasse a língua dos homens

31. E falasse a língua dos anjos,

32. Sem amor eu nada seria.


Renato Russo, com adaptação de trechos bíblicos e “Soneto 11”, de Luís de Camões.

(Disponível em: https://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/monte-castelo.html Acesso em: 27 jun.2022).



Pode-se afirmar que a repetição da palavra “É”, no início dos versos 16 a 22, caracteriza um recurso linguístico denominado: