Instrução: Para responder às questões de números 8 a 15, considere o texto a seguir.
Os intérpretes do Brasil e das nações egressas de sistemas coloniais partem, desde os meados do século XX, da aceitação tácita ou manifesta de uma dualidade fundamental: centro versus periferia.
Creio ser razoável perguntar se essa oposição é estrutural ou histórica; e, em consequência, se é estática ou dinâmica, se está fixada para todo o sempre como um conceito ontológico, ou se está sujeita ao tempo, logo à possibilidade de variação e mudança.
Há uma passagem em A era dos impérios de Eric Hobsbawm em que o historiador exprime a sua perplexidade em face do discurso sobre a diferença entre “partes avançadas e atrasadas, desenvolvidas e não desenvolvidas do mundo”:
“Definir a diferença entre partes avançadas e atrasadas, desenvolvidas e não desenvolvidas do mundo é um exercício complexo e frustrante, pois tais classificações são por natureza estáticas e simples, e a realidade que deveria se adequar a elas não era nenhuma das duas coisas. O que definia o século XIX era a mudança: mudança em termos de e em função dos objetivos das regiões dinâmicas do Atlântico norte, que eram, à época, o núcleo do capitalismo mundial. Com algumas exceções marginais e cada vez menos importantes, todos os países, mesmo os até então mais isolados, estavam, ao menos perifericamente, presos pelos tentáculos dessa transformação mundial. Por outro lado, até os mais ‘avançados’ dos países ‘desenvolvidos’ mudaram parcialmente através da adaptação da herança de um passado antigo e ‘atrasado’, e continham camadas e parcelas da sociedade resistentes à transformação. Os historiadores quebram a cabeça procurando a melhor maneira de formular e apresentar essa mudança universal, porém diferente em cada lugar, a complexidade de seus padrões e interações e suas principais tendências.”
231. Eric Hobsbawm, A era dos impérios. 1875-1914, 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. p.46.
(Alfredo Bosi, “O mesmo e o diferente”. IN Ideologia e contraideologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 227-228)