Atenção: As questões de números 11 a 15 referem-se ao texto abaixo.
Desde as priscas eras do Orkut, noto o fenômeno. Entro no perfil de uma moça e começo a olhar suas fotos: encontro-a ali ainda criança, vestida de odalisca, num Carnaval já amarelado do século 20; vejo-a numa praia, com uma turma na piscina de um sítio, no final da adolescência.
Então, sem que eu me dê conta, um retrato puxa meu olhar. Minha reação imediata, naquele interregno mental em que as pupilas já captaram a imagem, mas o cérebro ainda não teve tempo de processá-la, é de surpresa: como ela saiu bem nessa foto! Só um segundo depois percebo o engano: quem saiu bem não foi a garota do perfil, mas uma atriz famosa, cuja imagem foi contrabandeada para aquele álbum por conta de alguma semelhança com sua dona. Olho as outras fotos. Comparo. E da distância − às vezes menor, às vezes maior – entre a estrela de cinema e a mulher do Facebook surgem sentimentos contraditórios.
De início, topar com a destoante atriz me dava certa pena: afinal, por mais bonita que fosse a moça, ela nunca alcançava a musa. Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação de que todo perfil de rede social é um retrato ideal de nós mesmos. Quando cito uma frase de Nietzsche, mesmo quando posto uma foto de um churrasco, não estou eu, também, editandome? Tentando pegar esse aglomerado de defeitos, qualidades, ansiedades, desejos e frustrações e emoldurá-lo de modo a valorizar o quadro – engraçado, profundo, hedonista?
Hoje, portanto, admiro as moças que colocam fotos de belas atrizes entre as suas. Vejo ali um pouco de ousadia, um pouco de esperança, e, acima de tudo, algo oposto ao que eu via antes: não um delírio, a tentativa de fugir de si próprias, mas a capacidade de aceitarem-se na harmoniosa mistura entre o que são e o que gostariam de ser.
(Adaptado de Antonio Prata. Folha de S. Paulo, 4/7/12)
... ela nunca alcançava a musa.
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma verbal resultante será: