Bárbaros
A hipocrisia é uma característica comum dos impérios, mas alguns exageram. Quando a rainha Vitória se declarou chocada com os bárbaros chineses em revolta contra os ingleses, no fim do século XIX, não mencionou que a revolta era uma reação dos chineses à obrigação de importar o ópio que os ingleses plantavam na Índia, tendo destruído sua agronomia no processo.
Os ingleses obrigavam os hindus a abandonarem culturas tradicionais para produzir o ópio e foram à guerra para obrigar os chineses a consumi-lo, num momento particularmente bárbaro de sua história.
Havia sempre bárbaros convenientes nas fronteiras dos impérios: orientais fanáticos, monstros primitivos, tiranos sanguinários. Legitimavam a conquista colonial, transformando-a em missão civilizadora, enobreciam a raça conquistadora pelo contraste e – em episódios como o da Guerra do Ópio – disfarçavam a barbaridade maior dos civilizados alegando a truculência já esperada de raças inferiores.
As razões do mais forte continuam chamando-se razões históricas. As razões dos mais fracos são “protestos raivosos desses bárbaros rebeldes”, que teimam em se opor à sua dominação pelos mais fortes. E como são os vencedores que se encarregam de contar a História...
(Adaptado de Luís Fernando Veríssimo, O mundo é bárbaro)
Na triangulação econômica entre ingleses, chineses e hindus, caracterizada no texto, fica claro que