Pela primeira vez, um estudo pretende demonstrar como as plantações de citros favorecem, ou não, a fauna de uma região. Pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), campus de Sorocaba, mostra que pelo menos 50% das aves mais comuns na região vivem e se reproduzem em fragmentos de mata naturais, e não em áreas agrícolas e pomares. De acordo com o estudo, a possível redução das reservas previstas na proposta do novo Código Florestal pode levar ao desaparecimento de diversas espécies.
O trabalho de campo para a pesquisa foi realizado na zona rural de Pilar do Sul, próxima a Sorocaba. A área é tomada por plantações de tangerinas, além de pastos e campos de produção de grãos. O objetivo da pesquisa era verificar se as espécies avaliadas poderiam usar as plantações de tangerina, que são culturas permanentes, como acréscimo ao seu hábitat natural − ou até substituí-lo.
Segundo o estudo, das 122 espécies da amostra, 60 foram detectadas nas plantações e nos fragmentos florestais (áreas com vegetação nativa), e as demais somente nesses fragmentos, ou seja, 62 espécies não ocorrem nos pomares. "A mata nativa quase não existe mais e, por causa disso, muitas espécies desapareceram ou estão ameaçadas", lamenta o pesquisador Marcelo Gonçalves Campolin.
A pesquisa também chama a atenção para o novo Código Florestal, que prevê a redução de algumas áreas − hoje legalmente protegidas, como matas ciliares e topos de morros −, para serem utilizadas para a agropecuária. "Ficamos receosos de que as mudanças nas áreas protegidas possam ser terríveis para as aves e para outros animais, que vão perder ambientes naturais. E aquelas que não conseguem sobreviver nas plantações tendem a se tornar raras ou até mesmo a desaparecer", prevê o professor.
(José Maria Tomazela. O Estado de S. Paulo, Vida, A15, 26 de
junho de 2011, com adaptações)