“Guerra!”, escreveu Thomas Mann em novembro de 1914. “Sentimo-nos purificados, libertos, sentimos uma enorme esperança.” Muitos artistas exultaram com o início da Grande Guerra; era como se suas mais extravagantes fantasias de violência e destruição houvessem se tornado realidade.
Schoenberg foi acometido por aquilo que mais tarde chamou de “psicose de guerra”, e traçou comparações entre os ataques do exército alemão à França e suas próprias investidas contra os valores da burguesia decadente. Em carta a Alma Mahler, datada de agosto de 1914, demonstrou um entusiasmo extremado pela causa alemã, atacando de um só golpe a música de Bizet, Stravinski e Ravel. “É hora de acertar as contas!”, disparou Schoenberg. “Reduziremos, agora, esses defensores do kitsch à escravidão e lhes ensinaremos a venerar o espírito germânico e a adorar o Deus alemão.” Durante parte da guerra, manteve um diário meteorológico, acreditando que determinadas formações de nuvens pressagiavam a vitória ou a derrota alemã.
Berg também sucumbiu à histeria, pelo menos no início. Ao terminar a marcha das Três Peças, escreveu ao professor dizendo ser “muito vergonhoso acompanhar esses importantes eventos como mero espectador”.
O massacre de Dinant, o incêndio de Louvain e outras atrocidades de agosto e setembro de 1914 não foram apenas acidentes de guerra. Tais ações se enquadravam no programa do estado-maior alemão, visando à destruição “total dos recursos materiais e intelectuais do inimigo”. A noção de guerra total exibia um desagradável grau de semelhança com a mentalidade apocalíptica da arte austrogermânica recente.
Nem todos foram vítimas da “psicose de guerra”. Richard Strauss, por exemplo, se recusou a assinar um manifesto no qual 93 intelectuais alemães negavam qualquer ato ilícito do exército em Louvain. Em público, declarava que, como artista, não queria se envolver em confusões políticas, mas em particular sua posição parecia claramente isenta de patriotismo. “É revoltante”, escreveu alguns meses depois a Hofmannsthal, “ler nos jornais sobre a regeneração da arte alemã [...] sobre como a juventude da Alemanha emergirá limpa e purificada dessa guerra ‘gloriosa’, quando, na verdade, devemos agradecer se pudermos ver esses infelizes livres de
piolhos e percevejos, curados de suas infecções e, uma vez mais, afastados do hábito do assassinato!” A declaração parece uma resposta à apologia da violência de Mann. Da próxima vez que a Alemanha entrasse em guerra, os dois trocariam de lugar; Strauss seria a figura de proa, Mann, o dissidente.
(Alex Ross. O resto é ruído. Trad. de Claudio Carina e Ivan Weisz Kuck. São Paulo: Cia. das Letras, 2009, p. 81-2)
Em público, declarava que, como artista, não queria se envolver em confusões políticas, mas em particular sua posição parecia claramente isenta de patriotismo. (último parágrafo)
Ao se reescrever a frase acima, mantêm-se a correção, a clareza e o sentido originais em: