Manuel Bandeira publicou diversos textos durante o “mês modernista”, espaço aberto para o movimento no jornal carioca A Noite, em dezembro de 1925. O poeta era então assíduo frequentador do restaurante Reis, no velho centro do Rio. Eram dias de vida boêmia, e, apesar de todo o resguardo que tocava a um “tísico profissional”, Bandeira descia do morro do Curvelo ao sorvedouro da Lapa e vizinhanças, à vida pobre e corriqueira aos pés da Glória, onde a poesia se mesclava a um pouco de tudo. O poeta já não é o ser exclusivamente voltado para si mesmo, na busca da expressão da pura subjetividade, mas antes um sujeito que se abre ao mundo.
Uma tal atitude, cheia de consequências para a poesia brasileira, tinha enormes implicações. Implicava algo geral e, ao mesmo tempo, muito particular: uma abertura maior da vida do espírito para a realidade de um país largamente desconhecido
de si mesmo e para a novidade de fatos palpáveis da existência material de todo dia, tal como afloravam chocantes no espaço
modernizado das cidades.
A fratura da antiga convenção poética coincidia com a brecha do novo, por onde os fatos do dia penetravam no universo
da arte, exigindo um tratamento artístico igualmente renovado.
(Adaptado de Davi Arrigucci. Humildade, paixão e morte. São Paulo: Cia. das Letras, 1990. p.92-93)