Questões de Concurso
Filtrar (abrir filtros)
2.695 Questões de concurso encontradas
2.695 resultados
Página 85 de 539
Questões por página:
O boi vegetal
Arrebanhando as vozes que ainda continuam, o movimento para o canto do salão. Todos com os seus copos, e sorrisos fixos, essa postura flutuante de coquetel. Avulsos mas orientados, pouco a pouco se agrupam diante do homem baixo, magro, de cabelo duro e terno escuro. O governador vai falar.
O rumor cessa para o visitante que sério inclina a cabeça, agradecendo. Ele balança um instante, apoiando-se numa perna, na outra, e começa o seu discurso entre ruídos secos do microfone mal regulado. Tem um sotaque forte, que se arrasta cantante. Há o sorriso disfarçado, alguma atenção, uma porta fechada, ao fundo, sobre o pessoal da copa. [...] "Importante plano de governo é o plantio de um milhão de cajueiros, o que decerto irá contribuir para elevar o padrão de vida dos meus coestaduanos."
Um jornalista achou que a voz do governador se fazia mais forte, e no entanto mais nivelada, e embalado pensou numa grande população morando embaixo de árvores. Os ramos eram ralos, deixavam passar os raios de sol. Todo o povo estava de chapéu.
Grandes extensões verdes, riqueza, divisas. Os cajueiros voltando, insistindo. O entusiasmo, que levava a citações, "esta árvore de imenso agasalho", o tom mudado em poético, o ritmo se alargando, mais retórico. "Porque o cajueiro, senhores, é um verdadeiro boi vegetal."
Um homem de relações públicas, chegado cedo e já adiantado em bebida e cansaço, imaginou o boi fincado na paisagem, com suas patas entrando pela terra adentro, feitas raízes, nodosas, os chifres carregados de folhas e cajus.
O governador continuava, dividindo em parte e derivados a sua árvore: a madeira, a fruta, a castanha, a fibra, a sombra.
Um representante de governo, olhando o relógio e vendo já os vinte minutos de discurso, baixou a cabeça e procurou um jeito de industrializar a sombra, para concluir que seria melhor aproveitá-la sem compromissos. [...]
Os ouvintes, de copo na mão e cigarros acesos, começaram a mexer-se, educados mas inquietos, reparando que fazia calor, imaginando lá fora um trânsito pesado, lembrando ser ainda quarta-feira, a semana seus caminhos pela metade, e aquele cidadão ali se alongando em números, planos e folclore. [...]
O governador falando e observando o auditório, percebendo os seus movimentos, a hora que passara, se arrependendo de não ter feito um roteiro. Ainda muito a dizer, tanta coisa, e já precisando terminar. Um fecho, soneto. E voltou aos cajueiros, que eram símbolo. E ao boi, vegetal sim. E aos recursos humanos de sua gente. Sentindo-se muito honesto, sincero, verdadeiro, e no entanto meio confuso, atrapalhado, repetido. Com as omissões e o discursivo. O final baixo, quase de não se ouvir. E as palmas.
(Ricardo Ramos. Circuito fechado. São Paulo: Martins, 1972, p. 90-91)
O boi vegetal
Arrebanhando as vozes que ainda continuam, o movimento para o canto do salão. Todos com os seus copos, e sorrisos fixos, essa postura flutuante de coquetel. Avulsos mas orientados, pouco a pouco se agrupam diante do homem baixo, magro, de cabelo duro e terno escuro. O governador vai falar.
O rumor cessa para o visitante que sério inclina a cabeça, agradecendo. Ele balança um instante, apoiando-se numa perna, na outra, e começa o seu discurso entre ruídos secos do microfone mal regulado. Tem um sotaque forte, que se arrasta cantante. Há o sorriso disfarçado, alguma atenção, uma porta fechada, ao fundo, sobre o pessoal da copa. [...] "Importante plano de governo é o plantio de um milhão de cajueiros, o que decerto irá contribuir para elevar o padrão de vida dos meus coestaduanos."
Um jornalista achou que a voz do governador se fazia mais forte, e no entanto mais nivelada, e embalado pensou numa grande população morando embaixo de árvores. Os ramos eram ralos, deixavam passar os raios de sol. Todo o povo estava de chapéu.
Grandes extensões verdes, riqueza, divisas. Os cajueiros voltando, insistindo. O entusiasmo, que levava a citações, "esta árvore de imenso agasalho", o tom mudado em poético, o ritmo se alargando, mais retórico. "Porque o cajueiro, senhores, é um verdadeiro boi vegetal."
Um homem de relações públicas, chegado cedo e já adiantado em bebida e cansaço, imaginou o boi fincado na paisagem, com suas patas entrando pela terra adentro, feitas raízes, nodosas, os chifres carregados de folhas e cajus.
O governador continuava, dividindo em parte e derivados a sua árvore: a madeira, a fruta, a castanha, a fibra, a sombra.
Um representante de governo, olhando o relógio e vendo já os vinte minutos de discurso, baixou a cabeça e procurou um jeito de industrializar a sombra, para concluir que seria melhor aproveitá-la sem compromissos. [...]
Os ouvintes, de copo na mão e cigarros acesos, começaram a mexer-se, educados mas inquietos, reparando que fazia calor, imaginando lá fora um trânsito pesado, lembrando ser ainda quarta-feira, a semana seus caminhos pela metade, e aquele cidadão ali se alongando em números, planos e folclore. [...]
O governador falando e observando o auditório, percebendo os seus movimentos, a hora que passara, se arrependendo de não ter feito um roteiro. Ainda muito a dizer, tanta coisa, e já precisando terminar. Um fecho, soneto. E voltou aos cajueiros, que eram símbolo. E ao boi, vegetal sim. E aos recursos humanos de sua gente. Sentindo-se muito honesto, sincero, verdadeiro, e no entanto meio confuso, atrapalhado, repetido. Com as omissões e o discursivo. O final baixo, quase de não se ouvir. E as palmas.
(Ricardo Ramos. Circuito fechado. São Paulo: Martins, 1972, p. 90-91)
I. No 2º parágrafo esboça-se a cena: no primeiro plano, o governador que começa a falar e, no segundo, a plateia, entre atenta e desinteressada.
II. O 5º parágrafo aponta a continuidade do discurso do governador, caracterizado pela valorização das medidas anunciadas e até mesmo por ímpetos literários.
III. Quase todo o 9º parágrafo induz o leitor à percepção de certo tom irônico, no aproveitamento sem compromissos da sombra, ou melhor, no simples conforto de estar à sombra da árvore.
Está correto o que se afirma em:
O boi vegetal
Arrebanhando as vozes que ainda continuam, o movimento para o canto do salão. Todos com os seus copos, e sorrisos fixos, essa postura flutuante de coquetel. Avulsos mas orientados, pouco a pouco se agrupam diante do homem baixo, magro, de cabelo duro e terno escuro. O governador vai falar.
O rumor cessa para o visitante que sério inclina a cabeça, agradecendo. Ele balança um instante, apoiando-se numa perna, na outra, e começa o seu discurso entre ruídos secos do microfone mal regulado. Tem um sotaque forte, que se arrasta cantante. Há o sorriso disfarçado, alguma atenção, uma porta fechada, ao fundo, sobre o pessoal da copa. [...] "Importante plano de governo é o plantio de um milhão de cajueiros, o que decerto irá contribuir para elevar o padrão de vida dos meus coestaduanos."
Um jornalista achou que a voz do governador se fazia mais forte, e no entanto mais nivelada, e embalado pensou numa grande população morando embaixo de árvores. Os ramos eram ralos, deixavam passar os raios de sol. Todo o povo estava de chapéu.
Grandes extensões verdes, riqueza, divisas. Os cajueiros voltando, insistindo. O entusiasmo, que levava a citações, "esta árvore de imenso agasalho", o tom mudado em poético, o ritmo se alargando, mais retórico. "Porque o cajueiro, senhores, é um verdadeiro boi vegetal."
Um homem de relações públicas, chegado cedo e já adiantado em bebida e cansaço, imaginou o boi fincado na paisagem, com suas patas entrando pela terra adentro, feitas raízes, nodosas, os chifres carregados de folhas e cajus.
O governador continuava, dividindo em parte e derivados a sua árvore: a madeira, a fruta, a castanha, a fibra, a sombra.
Um representante de governo, olhando o relógio e vendo já os vinte minutos de discurso, baixou a cabeça e procurou um jeito de industrializar a sombra, para concluir que seria melhor aproveitá-la sem compromissos. [...]
Os ouvintes, de copo na mão e cigarros acesos, começaram a mexer-se, educados mas inquietos, reparando que fazia calor, imaginando lá fora um trânsito pesado, lembrando ser ainda quarta-feira, a semana seus caminhos pela metade, e aquele cidadão ali se alongando em números, planos e folclore. [...]
O governador falando e observando o auditório, percebendo os seus movimentos, a hora que passara, se arrependendo de não ter feito um roteiro. Ainda muito a dizer, tanta coisa, e já precisando terminar. Um fecho, soneto. E voltou aos cajueiros, que eram símbolo. E ao boi, vegetal sim. E aos recursos humanos de sua gente. Sentindo-se muito honesto, sincero, verdadeiro, e no entanto meio confuso, atrapalhado, repetido. Com as omissões e o discursivo. O final baixo, quase de não se ouvir. E as palmas.
(Ricardo Ramos. Circuito fechado. São Paulo: Martins, 1972, p. 90-91)
O boi vegetal
Arrebanhando as vozes que ainda continuam, o movimento para o canto do salão. Todos com os seus copos, e sorrisos fixos, essa postura flutuante de coquetel. Avulsos mas orientados, pouco a pouco se agrupam diante do homem baixo, magro, de cabelo duro e terno escuro. O governador vai falar.
O rumor cessa para o visitante que sério inclina a cabeça, agradecendo. Ele balança um instante, apoiando-se numa perna, na outra, e começa o seu discurso entre ruídos secos do microfone mal regulado. Tem um sotaque forte, que se arrasta cantante. Há o sorriso disfarçado, alguma atenção, uma porta fechada, ao fundo, sobre o pessoal da copa. [...] "Importante plano de governo é o plantio de um milhão de cajueiros, o que decerto irá contribuir para elevar o padrão de vida dos meus coestaduanos."
Um jornalista achou que a voz do governador se fazia mais forte, e no entanto mais nivelada, e embalado pensou numa grande população morando embaixo de árvores. Os ramos eram ralos, deixavam passar os raios de sol. Todo o povo estava de chapéu.
Grandes extensões verdes, riqueza, divisas. Os cajueiros voltando, insistindo. O entusiasmo, que levava a citações, "esta árvore de imenso agasalho", o tom mudado em poético, o ritmo se alargando, mais retórico. "Porque o cajueiro, senhores, é um verdadeiro boi vegetal."
Um homem de relações públicas, chegado cedo e já adiantado em bebida e cansaço, imaginou o boi fincado na paisagem, com suas patas entrando pela terra adentro, feitas raízes, nodosas, os chifres carregados de folhas e cajus.
O governador continuava, dividindo em parte e derivados a sua árvore: a madeira, a fruta, a castanha, a fibra, a sombra.
Um representante de governo, olhando o relógio e vendo já os vinte minutos de discurso, baixou a cabeça e procurou um jeito de industrializar a sombra, para concluir que seria melhor aproveitá-la sem compromissos. [...]
Os ouvintes, de copo na mão e cigarros acesos, começaram a mexer-se, educados mas inquietos, reparando que fazia calor, imaginando lá fora um trânsito pesado, lembrando ser ainda quarta-feira, a semana seus caminhos pela metade, e aquele cidadão ali se alongando em números, planos e folclore. [...]
O governador falando e observando o auditório, percebendo os seus movimentos, a hora que passara, se arrependendo de não ter feito um roteiro. Ainda muito a dizer, tanta coisa, e já precisando terminar. Um fecho, soneto. E voltou aos cajueiros, que eram símbolo. E ao boi, vegetal sim. E aos recursos humanos de sua gente. Sentindo-se muito honesto, sincero, verdadeiro, e no entanto meio confuso, atrapalhado, repetido. Com as omissões e o discursivo. O final baixo, quase de não se ouvir. E as palmas.
(Ricardo Ramos. Circuito fechado. São Paulo: Martins, 1972, p. 90-91)
Texto II
No arranco cego da turba
Ocorrências violentas envolvendo multidões têm se amiudado no Brasil, não raro com mortos e feridos. Nos últimos dias, tragédia de quatro mortos e oito feridos num show de música country em Jaguariúna; uma invasão de 80 torcedores descontentes na sede do Flamengo, no Rio, com agressão a um jogador; mais de 150 torcedores do Palmeiras, num confronto com a PM, levados para uma delegacia da zona leste, 20 feridos. Em duas décadas, ocorreram muitos episódios de depredação de estações ferroviárias, queima de ônibus, invasão e depredação de recintos públicos, como a própria Câmara dos Deputados e Universidades, e sobretudo linchamentos.
Na maioria dos casos o ímpeto da massa vem do descontentamento e do protesto. Residualmente, como em Jaguariúna, do medo e do pânico. Eventualmente, a provocação irresponsável de uma bomba junina no meio da multidão, um grito, uma correria que arrasta outras pessoas que, no geral, nem sabem por que estão correndo. Vítimas deliberadas, como nos linchamentos, ou casuais, como em Jaguariúna. Ou casos mais graves, em que a turba não é massa informe que só adquire perfil e identidade depois da ocorrência que a mobiliza, mas é multidão já polarizada. Ou mesmo no caso do massacre de Carajás, em 1996, quando 19 acampados foram mortos num confronto típico de multidão. Ou os casos mais frequentes de confrontos violentos entre torcidas de futebol. Fatos próprios de uma sociedade intolerante, organizada em cima de identidades antissociais, como se nela não houvesse espaço e oxigênio para todos e para a democracia da diferença.
O que chama atenção nos últimos tempos é justamente a típica manifestação de turba em ações de natureza política. A contaminação crescente da atuação política, sobretudo dos movimentos sociais, pelo comportamento de multidão esvazia a demanda que os move de sua dimensão propriamente política. Os sociólogos que fizeram os primeiros estudos sobre o tema definiam tais ações como comportamento coletivo. Mas nem toda multidão atua por comportamento de multidão. Por isso, decantaram o comportamento coletivo para nele identificar os movimentos sociais, que são aquelas condutas que têm sentido, que discrepam das irracionalidades próprias da multidão. Comportamento de multidão nos movimentos sociais é
justamente a mais significativa indicação de impasse e retrocesso, de falta de projeto com clareza política quanto à própria busca.
(José de Souza Martins. O Estado de S. Paulo, Aliás, J6, 31 de maio de 2009, com adaptações)
A característica do comportamento de multidão é a improvisação.
São eventos que duram não mais do que poucos minutos.
As frases acima articulam-se em um único período com clareza, correção e lógica em: